Tenho dúvidas cruéis quanto a você. Não sobre as atitudes, mas sobre a sua existência. Ela já me parecia irreal quando aquela noite me pegou de surpresa e aos poucos me consumiu.
Agora, depois de tantas Janelas abertas e fechadas, de tanta tristeza guardada em caminhadas, de tantos nós na garganta (os quais ainda existem, não há coração que consiga desatar) essa delicadeza bruta que me acompanha e que me parece ainda mais inatingível. Aliás, confesso nem saber se ainda me acompanha essa delicadeza bruta, abominável de alguns dias, mas se acompanha, não faças mais, que ficas ainda mais bonito por fazer e se quizeres voltar, volta não.
Mas não é disso que se trata, e sim da sua inexistência. Cheguei a ela depois de pensar e pensar e discutir comigo mesmo sobre como suas atitudes são coisas de outro mundo, e sobre como esse cuidado excessivo que dedicavas a mim ultrapassava em muito a barreira do humano. Da mesma maneira, a tristeza sombria que te tomava os olhos quando lembrava que não, não vivi metade do que me querias que tivesse, e te culpavas por isso e te castigavas sem saber, e me perdia. É uma quantidade de amor que atinge o sublime, sem a menor dúvida de erro. Não falta amor, nunca faltou, falta a harmonia de tempos diferentes, quase opostos, que conviviam graças a empurrões desconhecidos que nos mantinham nos trilhos nos primeiros meses.
Já ouvi mais de uma vez coisas do tipo "a metade certa da laranja", portanto que esperemos a laranja deixar de ser verde para tirar dali alguma coisa. Não tenho medo da breguice quando te escrevo. A breguice sempre foi minha amiga, tua também, responsável por pulseiras hippies compradas as pressas, ou coisas assim.
Teu amor engolia o mundo - e eu me aconchegava, oferecendo tudo de cru que tenho aqui, porque o que é cru é o melhor da vida, e pra ti só dedicavas meu melhor. "Aguenta", pensava eu, um dia terás o prazer de ter tua existência. Aguentava, firme, amante.
Querendo salvar acima de água ou de fogo. Salvaste, sem dúvidas, essa tua existência-não-real que me faz ver que talvez seja eu real demais, e que é isso que precisamos entender antes de partir. Mas partirei contigo, porque como nós nunca houve. E tu, que me permita ser irreal da mesma forma, te prometo manter aqui meu cru e meu inteiro - porque tudo foi, e foi só para ti.
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