jeudi 2 avril 2009

Narciso II


Eu não sei o que o meu corpo abriga nessas noites quentes de verão. Respirar de peito aberto é uma batalha a ser vencida dia após dia, com os olhos livres de buscas pelas verdades absolutas que nunca salvaram ninguém de pouca fé.
Carrego em mim a culpa condensada de ser a responsável por noventa por cento de tudo aquilo que condeno; e a esperança infantil do dia de cores fortes que haverá de trazer algodões-doces de mudança. Há também a calmaria do coração quando me vejo frente a uma compreensão que me faz inumano, inacabado, indestrutível, e a tormenta aguda que me dói apática quando sinto vivo aqui cada sentimento novo - sincero, puro, cru - e que me faz intenso, inteiro, impulso.
Sinto cada vez mais forte o cheiro doce da simplicidade que me chega à porta munida de dimensões que vi uma vez, mas que jamais esqueço; por vezes, entrego-me à preguiça, atrás de qualquer desculpa esfarrapada, e me deixo consumir cada pêlo, pele, parte, por um sol que acabei de conhecer, mas que sou íntimo.
Do amor: quero fundo e todo, quero criá-lo aqui com o cuidado de um pai que acabou de carregar nos braços o filho recém nascido - sou todo e inteiro dos amores e amigos que escolho meus, mesmo que não os tenham escolhido. Não me dou à senhora tristeza de guardar meus amores e amigos mesmo que estes tenham de percorrer o mundo e retornar a mim; sou provedoro, apenas, encarando de queixo alto consequências eventuais.
Da tristeza: deixo vir com a condição de que venha em chamas, tudo que é tem de ser em todo. Não me esquivo do caráter Carpe Diem de tudo ou nunca mais, porque há de ser vivo vez ou outra.
Da coragem: vejo sempre dois ou três passos adiante; não tão perto a ponto de alcançar, não tão longe que possa desistir.
Da febre: sem ela nao sou.
Das lágrimas: saudades doídas do sal que endureceu.
Do futuro: parto aos poucos a brisa da vontade, pra quando o verão nascer, pra quando chegar a hora.

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